quarta-feira, 24 de agosto de 2011

QUARTAS COM A FAUrb + InterPET




         Ocorreu no dia 17 de agosto, no auditório da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPel, a primeira palestra do projeto de extensão “Quartas com a FAUrb” do semestre letivo 2011-2. Dessa vez o encontro teve uma integração com o InterPET, reunião mensal entre os grupos PET da UFPel. Em um primeiro momento, os participantes puderam apreciar imagens de outros eventos realizados pelo grupo PET-FAUrb, organizador dos dois eventos, e ouvir música enquanto aguardavam o início da palestra. As 18h30min começou a palestra intitulada "Entre a interrelação e a intervenção: Ensaios para um InterPET”, ministrada pela professora Carla Gonçalves Rodrigues da FAE-UFPel com o auxílio de sua aluna Gabriela Pereira de Pereira. Durante a palestra, a professora falou sobre a importância dos trabalhos realizados pelos grupos PET, e da experiência que já teve junto ao grupo PET-FAUrb há alguns anos. Também apresentou alguns trabalhos que realizada e estão ligados ao trabalho com alunos e diferentes formas de percepção.



       Após o término da palestra, ocorreu um pequeno intervalo onde foram oferecidos pipoca, rapadurinhas e quentão aos presentes, além de uma apresentação do artista de rua conhecido apenas como Luis, que, acompanhado de uma amiga, tocou e cantou algumas canções, proporcionando a descontração dos presentes, não apenas pela sua música, mas também através de seu estilo diferenciado.




     Após o intervalo, realizou-se a assembléia do  InterPET, onde estavam presentes os grupos PET da UFPel. Nessa reunião, foram discutidos assuntos de interesse dos mesmos. Para encerrar o encontro, foram  lidos pelo tutor do PET-FAUrb, Maurício Couto Polidori, trechos da poesia “Operário em Construção” de Vinícius de Moraes. Esse momento de leitura é uma forma de incentivo à leitura e a integração entre os membro do grupo PET-FAUrb adotada há algum tempos e que é feita no início de cada uma das reuniões ordinárias do grupo.

Operário em Construção
Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas 
Ele subia com as asas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia 
De sua grande missão:
Não sabia por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
De fato como podia
Um operário em construção
Compreender porque um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse eventualmente
Um operário em construcão.
Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma subita emoção
Ao constatar assombrado 
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão
Era ele quem fazia
Ele, um humilde operário
Um operário em construção.
Olhou em torno: a gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia 
Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento
Nao sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento 
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara 
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado 
Olhou sua propria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção 
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.
Foi dentro dessa compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele nao cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Excercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.
E um fato novo se viu
Que a todos admirava: 
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edificio em construção
Que sempre dizia "sim"
Começou a dizer "não"
E aprendeu a notar coisas
A que nao dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uisque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução
Como era de se esperar
As bocas da delação
Comecaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação.
- "Convençam-no" do contrário
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isto sorria.
Dia seguinte o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu por destinado
Sua primeira agressão
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!
Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras seguiram
Muitas outras seguirão
Porém, por imprescindível
Ao edificio em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.
Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo contrário
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração: 
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher
Portanto, tudo o que ver
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.
Disse e fitou o operário
Que olhava e refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria
O operário via casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!
- Loucura! - gritou o patrão
Nao vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martirios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construido
O operário em construção


Vinícius de Moraes


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