Ocorreu no dia 17 de agosto, no auditório da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPel, a primeira palestra do projeto de extensão “Quartas com a FAUrb” do semestre letivo 2011-2. Dessa vez o encontro teve uma integração com o InterPET, reunião mensal entre os grupos PET da UFPel. Em um primeiro momento, os participantes puderam apreciar imagens de outros eventos realizados pelo grupo PET-FAUrb, organizador dos dois eventos, e ouvir música enquanto aguardavam o início da palestra. As 18h30min começou a palestra intitulada "Entre a interrelação e a intervenção: Ensaios para um InterPET”, ministrada pela professora Carla Gonçalves Rodrigues da FAE-UFPel com o auxílio de sua aluna Gabriela Pereira de Pereira. Durante a palestra, a professora falou sobre a importância dos trabalhos realizados pelos grupos PET, e da experiência que já teve junto ao grupo PET-FAUrb há alguns anos. Também apresentou alguns trabalhos que realizada e estão ligados ao trabalho com alunos e diferentes formas de percepção.
Após o término da palestra, ocorreu um pequeno intervalo onde foram oferecidos pipoca, rapadurinhas e quentão aos presentes, além de uma apresentação do artista de rua conhecido apenas como Luis, que, acompanhado de uma amiga, tocou e cantou algumas canções, proporcionando a descontração dos presentes, não apenas pela sua música, mas também através de seu estilo diferenciado.
Após o intervalo, realizou-se a assembléia do InterPET, onde estavam presentes os grupos PET da UFPel. Nessa reunião, foram discutidos assuntos de interesse dos mesmos. Para encerrar o encontro, foram lidos pelo tutor do PET-FAUrb, Maurício Couto Polidori, trechos da poesia “Operário em Construção” de Vinícius de Moraes. Esse momento de leitura é uma forma de incentivo à leitura e a integração entre os membro do grupo PET-FAUrb adotada há algum tempos e que é feita no início de cada uma das reuniões ordinárias do grupo.
Operário em Construção
Era ele que erguia casas Onde antes só havia chão. Como um pássaro sem asas Ele subia com as asas Que lhe brotavam da mão. Mas tudo desconhecia De sua grande missão: Não sabia por exemplo Que a casa de um homem é um templo Um templo sem religião Como tampouco sabia Que a casa que ele fazia Sendo a sua liberdade Era a sua escravidão. De fato como podia Um operário em construção Compreender porque um tijolo Valia mais do que um pão? Tijolos ele empilhava Com pá, cimento e esquadria Quanto ao pão, ele o comia Mas fosse comer tijolo! E assim o operário ia Com suor e com cimento Erguendo uma casa aqui Adiante um apartamento Além uma igreja, à frente Um quartel e uma prisão: Prisão de que sofreria Não fosse eventualmente Um operário em construcão. Mas ele desconhecia Esse fato extraordinário: Que o operário faz a coisa E a coisa faz o operário. De forma que, certo dia À mesa, ao cortar o pão O operário foi tomado De uma subita emoção Ao constatar assombrado Que tudo naquela mesa - Garrafa, prato, facão Era ele quem fazia Ele, um humilde operário Um operário em construção. Olhou em torno: a gamela Banco, enxerga, caldeirão Vidro, parede, janela Casa, cidade, nação! Tudo, tudo o que existia Era ele quem os fazia Ele, um humilde operário Um operário que sabia Exercer a profissão. Ah, homens de pensamento Nao sabereis nunca o quanto Aquele humilde operário Soube naquele momento Naquela casa vazia Que ele mesmo levantara Um mundo novo nascia De que sequer suspeitava. O operário emocionado Olhou sua propria mão Sua rude mão de operário De operário em construção E olhando bem para ela Teve um segundo a impressão De que não havia no mundo Coisa que fosse mais bela. Foi dentro dessa compreensão Desse instante solitário Que, tal sua construção Cresceu também o operário Cresceu em alto e profundo Em largo e no coração E como tudo que cresce Ele nao cresceu em vão Pois além do que sabia - Excercer a profissão - O operário adquiriu Uma nova dimensão: A dimensão da poesia. E um fato novo se viu Que a todos admirava: O que o operário dizia Outro operário escutava. E foi assim que o operário Do edificio em construção Que sempre dizia "sim" Começou a dizer "não" E aprendeu a notar coisas A que nao dava atenção: Notou que sua marmita Era o prato do patrão Que sua cerveja preta Era o uisque do patrão Que seu macacão de zuarte Era o terno do patrão Que o casebre onde morava Era a mansão do patrão Que seus dois pés andarilhos Eram as rodas do patrão Que a dureza do seu dia Era a noite do patrão Que sua imensa fadiga Era amiga do patrão. E o operário disse: Não! E o operário fez-se forte Na sua resolução Como era de se esperar As bocas da delação Comecaram a dizer coisas Aos ouvidos do patrão Mas o patrão não queria Nenhuma preocupação. - "Convençam-no" do contrário Disse ele sobre o operário E ao dizer isto sorria. Dia seguinte o operário Ao sair da construção Viu-se súbito cercado Dos homens da delação E sofreu por destinado Sua primeira agressão Teve seu rosto cuspido Teve seu braço quebrado Mas quando foi perguntado O operário disse: Não! Em vão sofrera o operário Sua primeira agressão Muitas outras seguiram Muitas outras seguirão Porém, por imprescindível Ao edificio em construção Seu trabalho prosseguia E todo o seu sofrimento Misturava-se ao cimento Da construção que crescia. Sentindo que a violência Não dobraria o operário Um dia tentou o patrão Dobrá-lo de modo contrário De sorte que o foi levando Ao alto da construção E num momento de tempo Mostrou-lhe toda a região E apontando-a ao operário Fez-lhe esta declaração: - Dar-te-ei todo esse poder E a sua satisfação Porque a mim me foi entregue E dou-o a quem quiser. Dou-te tempo de lazer Dou-te tempo de mulher Portanto, tudo o que ver Será teu se me adorares E, ainda mais, se abandonares O que te faz dizer não. Disse e fitou o operário Que olhava e refletia Mas o que via o operário O patrão nunca veria O operário via casas E dentro das estruturas Via coisas, objetos Produtos, manufaturas. Via tudo o que fazia O lucro do seu patrão E em cada coisa que via Misteriosamente havia A marca de sua mão. E o operário disse: Não! - Loucura! - gritou o patrão Nao vês o que te dou eu? - Mentira! - disse o operário Não podes dar-me o que é meu. E um grande silêncio fez-se Dentro do seu coração Um silêncio de martirios Um silêncio de prisão. Um silêncio povoado De pedidos de perdão Um silêncio apavorado Com o medo em solidão Um silêncio de torturas E gritos de maldição Um silêncio de fraturas A se arrastarem no chão E o operário ouviu a voz De todos os seus irmãos Os seus irmãos que morreram Por outros que viverão Uma esperança sincera Cresceu no seu coração E dentro da tarde mansa Agigantou-se a razão De um homem pobre e esquecido Razão porém que fizera Em operário construido O operário em construção |
Vinícius de Moraes
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